A Senhorinha e o Guarda-Chuva Falante

- Yana! Yana! - gritava ruidosamente Wole, que inutilmente tentava conter a pequena garotinha a ser treinada.

- Você não me pega! - ela minuciou um grito infantil, próprio de sua idade, enquanto corria ligeiramente por entre as escadas do Corredor de Elos.

- Maldição, Yana! Você não pode fazer isto comigo! - Wole finalmente conseguiu pegá-la pelo braço, e estava prestes a lhe dar uns cascudos, quando de repente, uma senhora e o seu guarda-chuva falante deram um golpe certeiro no jovem Wole, que caiu ao chão desacordado.

Yana olhava a cena com os olhos arregalados e morrendo de medo de ser a próxima vítima. A senhorinha abraçou-a, e quando Wole começou a se levantar, recordando os sentidos, o guarda-chuva da senhorinha caminhou até Wole e estava pronto a lhe acertar novamente.

- Não, não! Por favor! - Wole suplicou e Yana começou a chorar, com medo e pena de Wole.

- Orra orras! Se nóm é lo pequeno Wuole! - disse o guarda-chuva num sotaque indecifrável.

- O quê? - Wole ainda tentava entender o que acontecia.

- Veja se isto são modos, jovenzinho. Não se deve bater em uma dama tão pequena, uma jovem aprendiz. - disse a senhorinha.

- Mas, eu também sou um aprendiz, e tenho que cuidar desta coisinha, ela não pára um minuto, e também, assim como os outros meninos, tenho que cuidar do Corredor de Elos e vigiar a todos que passam por aqui. Sabe... não é fácil, e por enquanto sou o único a ter uma praguinha para cuidar.

A senhorinha levou sua mão a boca, num sinal de silêncio - Cale-se, chega de reclamações. Tudo o que você precisa é ensinar esta pequena, não é mesmo? Então o faça. E pare de maltratá-la!

- Senhora, eu compreendo o que quer dizer, mas veja a minha situação, tenho apenas 12 anos, preciso cuidar do Corredor...

- Eu já entendi! - interrompeu-o a senhorinha - Poderia por favor falar de reclamar e fazer o seu trabalho? Eu quero atravessar o Corredor de Elos. Vou para a Ponte Nova.

Wole levantou-se cabisbaixo e acenou para a sua esquerda - Fale com o Goldine, ele é o responsável pelas fronteiras da Ponte Nova. Se me permite... Preciso ficar com a pequena - disse, dirigindo-se para Yana.

- Yo nóm acho molto bon ter um ménino tão crueldoso a cuidar de una pequenitá jóvem! - exclamou o guarda-chuva.

- Deixe-os. Se foram encarregados um ao outro, assim deve ser. Agora vamos, vamos seguir nossa viagem. - e a senhorinha agarrou seu guarda-chuva falante ao braço, pegou sua mala à direita e seguiu para falar com Goldine.

Wole lançou um olhar reprovador para a pequena; - Yana, não faça mais isto! Você só me traz problemas!

Ela sorriu sapeca e seus olhos brilharam por piedade; - Desculpa Wole, não faço por mal, você sabe. É entediante ficar aqui, ter que cuidar das portas e nunca poder atravessá-las.

- Eu sei. Também me sinto assim, - ele se encurvou para o ouvido dela e sussurrou - mas é segredo. Só que um dia, quando você estiver preparada para tomar o meu lugar, eu vou poder sair daqui, e você também poderá sair um dia, quando preparar outra pessoa. É por isso que precisa ser boazinha, compreende? Para um dia podermos sair daqui e deixarmos de ser os guardiões.

- Tá bom... - disse a pequena enquanto mexia com seus pequenos dedos entre suas próprias mãos e mostrava uma leve timidez.