quarta-feira, 23 de maio de 2012

a descobrir-se, parte 1 de 3.

   a jovem ainda corria de pressa por aquelas árvores secas e tortas com medo de ser encontrada pelo seu Anjo, estava cansada e tudo o que conseguia pensar era em Delmique. não se lembrava mais da última vez que havia de fato ingerido algum alimento, transpirado ou sentido a necessidade de evacuar e mictar. não que isto fosse ruim, pois na verdade era muito bom não ter que se preocupar com estas coisas. enquanto corria e desviava dos galhos secos e das poças embalsamadas por uma gosma escura, Blanca pensava séria e profundamente sobre a relação que Delmique e Amor haviam entre si e com ela. estava mais do que óbvio que Delmique fazia parte do que chamam de mal, enquanto Amor era o seu anjo benévolo. mas o motivo de Delmique realmente se importar com ela e de seu anjo ter trapaceado a deixava muito confusa. como o mal poderia ser bom e o bem executar o mal?
   era isto que a luzerna procurava saber enquanto corria incessantemente em direção aos medos de Delmique, sem perceber que faziam parte de seus próprio medos. conforme aproximava-se do reinado de seu Monstro, Blanca sentia o ar tornar-se gélido e o cenário florestal fora bruscamente interrompido por um pântano feito de aço em plena noite de lua cheia. o luar intenso e amarelado refletia na fina manta que havia se formado em cima da água parada, mostrando um lugar intensamente assustador. a água refletia de forma branda a luz que mostrava vez por outra as árvores e flores feitas de aço. nem poderiam ser chamadas de flores, eram pedaços espinhentos e prateados presos nas hastes duras dos troncos envoltos por folhas petrificadas. ela jamais ousaria colher uma daquelas coisas e prender em seu cabelo, como costumava fazer quando andava nos campos de trigo. trocou os passos ligeiros e longos por cuidadosas pegadas, sentia que qualquer movimento errado a faria presa de uma armadilha mortal.
   por um descuido qualquer deixou a pele alva de seu delicado pé arranhar em uma folha petrificada que estava no chão. foi o suficiente para ferir de leve a superfície de seu calcanhar e uma gota carmim vívida caiu ao chão. o que deveria ser um som minúsculo e até mesmo inaudível por ela se tornou em um gotejar ecoante e perturbador, tão alto a ponto de quebrar em mil pedaços todos os aços que a rondavam, transformando aquele pântano em uma sala completamente vazia. um vazio diferente, Blanca estava ofegante. o vazio que ela estava acostumada era escuro e tornava-a sem motivos de fazer qualquer coisa, porém este vazio a cegava de tão claro e branco. fazia tanto tempo que a luzerna não via uma luz real, que não sentia coisas prazerosas tocar sua pele. eram sempre faíscas, crepúsculos, penumbras, mas nunca luzes realmente vivas quanto esta. sentiu-se um animal feroz e não sabia como reagir a tal sensação, um vazio tão diferente que ela sentia poder ser completa por outra coisa novamente.

Continua...

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